terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tema: O TRABALHO COM CANTINHOS






APRESENTAÇÃO
O trabalho na educação infantil demanda muita criatividade, energia, vontade de fazer, flexibilidade por parte do professor, pois as crianças dessa faixa etária geralmente são ativas, curiosas, falantes, cheias de vida.
Ao me deparar com a realidade das escolas de Educação Infantil, fiquei um pouco decepcionada e frustrada, pois percebi a grande dificuldade que vários colegas de trabalho apresentavam com relação à metodologia, à execução e desenrolar do trabalho pedagógico com as crianças, pois grande parte deles realizava excelentes planejamentos que nem sempre alcançavam os objetivos propostos, pois não levavam em consideração as especificidades que essa faixa etária apresenta, pensando em crianças estáticas, disciplinadas, robóticas, que aprendem todas ao mesmo tempo, da mesma forma, homogeneamente e isso tudo me afetava, pois o planejamento é feito coletivamente por fases e para finalizar, a organização do mobiliário, dos materiais das salas não facilitavam o trabalho nem ao professor, nem às próprias crianças.
“...ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” ( FREIRE , 1996, p. 52).”

Numa das Reuniões de HTPC, a coordenadora ofereceu a oportunidade aos professores de compartilharem com o coletivo as experiências anteriores com a Educação Infantil, para que as colegas pudessem visualizar, refletir, comparar e até mesmo buscar mais informações através de pesquisas a respeito do trabalho com oficinas, ou seja, os cantinhos fixos. Foi minha grande chance de “contaminar” as colegas com o maravilhoso e rico mundo dos cantinhos no cotidiano da Educação Infantil.


ENVOLVIDOS
A experiência envolveu toda a equipe escolar, desde a gestão com a coordenadora e diretora, passando pelas professoras da U.E. que conheceram um pouco do trabalho através do cotidiano, os pais que perceberam e comentaram em reuniões sobre a evolução de seus filhos, os alunos e até os funcionários, que também fazem parte do processo, pois com certeza seu trabalho ficou “diferente” após a prática do trabalho com “cantinhos”. Ao todo, foram 25 crianças do período da manhã, com a Professora Eunice, que se encantou e com a maior vontade foi minha parceira de trabalho, pois dividimos a mesma sala em períodos contrários e 25 crianças do período da tarde, que acredito, foram beneficiados com o trabalho em questão.

OBJETIVO GERAL DA EXPERIÊNCIA
- Propiciar uma alternativa metodológica válida na busca de soluções para a execução do trabalho pedagógico na Educação Infantil, que tenha como finalidade, a autonomia, cooperação e desenvolvimento de habilidades.


DESCRIÇÃO DETALHADA DA EXPERIÊNCIA
  - Embasamento teórico
Ao almejar mudanças na concepção de ensino e aprendizagem e, conseqüentemente, na postura dos professores,  o trabalho com cantinhos não deve ser visto como uma opção puramente metodológica, mas como uma maneira de repensar a função da escola, favorecendo o desenvolvimento cognitivo, afetivo, cultural e social dos alunos.
Sendo assim, na  busca de uma prática pedagógica realmente eficaz, que atenda todas as expectativas de aprendizagem e desenvolvimento de nossas crianças, foram realizadas pesquisas, leituras, experimentos, troca de  informações, materiais, reflexões, e pude concluir que  não existe receita, mas sim, a vontade e a ação, que em conjunto, podem fazer a diferença.
Nesses estudos, relacionei as idéias, filosofias e metodologias de alguns estudiosos e à partir deles, desenvolvi  minha própria crença, minha prática.
Para Piaget, o conhecimento é construído pelo sujeito, no contexto das interações com outras pessoas e/ou objetos. Isto significa que a escola deve propiciar situações que favoreçam a experimentação, a reflexão e a descoberta.

Fernando Hernández, propõe um trabalho por projetos que permite que o aluno aprenda-fazendo e reconheça a sua autoria naquilo que produz. No projeto, a criança explora, aplica, busca, interpreta informações e tem a oportunidade de recontextualizar aquilo que aprendeu, estabelecer relações significativas entre os conhecimentos, ampliando o seu universo de aprendizagem.
Vygotsky aponta que o educador deve agir como mediador na zona de desenvolvimento proximal , momento em que a criança evolui em relação ao seu conhecimento real atingindo então, a zona de desenvolvimento potencial. Num momento posterior, a criança evolui novamente e o que era potencial, passa a ser real.
Para fazer a mediação pedagógica, o professor precisa acompanhar o processo de aprendizagem do aluno, ou seja, entender seu caminho, seu universo cognitivo e afetivo, bem como sua cultura, história e contexto de vida.



Para Freinet, a realidade educacional não pode ser dissociada da sociedade em que esta está inserida. A consciência deste vínculo entre escola e meio, além de possibilitar o êxito da educação, favorece o surgimento de algumas das condições necessárias à transformação da sociedade como, por exemplo, a compreensão da realidade e a prática cooperativa e democrática.
A maioria das atividades respeita o conteúdo curricular, que possui objetivos bem claros. O planejamento, no entanto, é flexível, se moldando de acordo com a motivação da turma. A maneira e a época em que os conteúdos serão introduzidos são estipulados de acordo com os interesses do grupo, mas os objetivos do professor são rigorosos. Os conteúdos são trabalhados dentro dos Projetos de trabalho, que podem partir tanto do interesse do grupo, como ser proposto pelo professor, de forma estimulante, que atenda às necessidades do grupo, da escola ou da comunidade.
Freinet não despreza os objetivos que cada ano letivo possui, somente é flexível quanto à forma como estes serão introduzidos e desenvolvidos.
Após este breve levantamento de idéias e concepções, podemos relacionar o trabalho prático à teoria citada.

Ø Desenvolvimento
Num primeiro momento, é necessário explicitar o papel do educador nesta experiência: contribuir para o desenvolvimento de cidadãos para uma sociedade verdadeiramente democrática. Assim, aprende-se democracia, praticando a vida em sociedade e para ser cidadão, é necessário ser livre e autônomo. Para se obter autonomia, é necessário liberdade de escolhas, mas uma liberdade contextualizada, que a própria criança ajuda a construir.
Seguindo essa filosofia, foi necessário o planejamento da organização do mobiliário da sala em que as crianças seriam recebidas e que posteriormente, concretizariam seus planos de ação. Nessa primeira etapa, foi primordial o interesse, envolvimento, trocas de experiências e principalmente, a cooperação entre as professoras envolvidas e gestão escolar.
A sala foi organizada de forma que as especificidades e individualidades das crianças fossem respeitadas, propiciando autonomia e cooperação, dividindo os espaços em oficinas de trabalho, que funcionam ao mesmo tempo, atendendo à escolha das crianças. Em cada oficina, ou “cantinho fixo”, estão dispostos os materiais e equipamentos necessários para a realização de cada atividade. Dessa forma, assim que cada criança termine uma atividade, pode procurar outro cantinho que haja lugar disponível para continuar suas experiências. Se por acaso o cantinho que ela escolher estiver ocupado, ela deverá esperar, para compreender que “nem sempre fazemos o que queremos e sim sempre queremos o que fazemos”.
Ao final do tempo disponibilizado para o trabalho nos cantinhos, cada criança organiza o material utilizado nos locais combinados, responsabilizando-se também pela limpeza do espaço utilizado.
As atividades nos cantinhos propiciam o tateio com diferentes tipos de materiais, mas devem ser planejados previamente e a postura do educador deve ser a de mediador, intervindo sempre que necessário orientando nas dúvidas e cooperando na reconstrução de conhecimentos.
Antes de iniciar o trabalho num determinado cantinho, foram dadas explicações para as crianças sobre as regras do mesmo, inclusive sobre o número máximo de participantes de cada vez, estabelecendo assim, as regras de bom funcionamento do trabalho, evitando estragos e ou desentendimentos.
Cantinhos desenvolvidos:

 


- DESENHO: com disponibilidade de papéis e lápis diversos, canetinhas, giz de cera. (cabem 6 crianças)





- PINTURA: papel, cartolina, jornal, papelão, caixas, tinta, pincéis, “trapos”. (cabem 4 crianças)
- RECORTE E COLAGEM: tesoura, cola, papéis de diferentes formas e tamanhos, materiais recicláveis, tecidos, revistas, palitos, sementes, areia colorida, macarrão, etc.(cabem 4 crianças)

 


- MODELAGEM: massinha para modelar industrializada ou caseira, argila, palitos de sorvete, forminhas. (4 crianças)






- BIBLIOTECA: livros de histórias, de poesias, gibis, revistas, pôsteres, LIVRO DA VIDA, álbuns. (2 crianças)
- CASINHA: bonecas, panelas, pratos, talheres, fantasias, móveis, bolsas. (3 crianças)
- JOGO DE CHÃO: tapete em E.V.A.  para proteção e delimitação do espaço e jogos de encaixe, construção, “LEGO”, animais em miniatura, carrinhos em miniatura.(3 crianças)
- JOGOS DE MESA: Memória, quebra-cabeça, dominó, tabuleiro.(4 crianças)

 


- COMPUTADOR: Computador (Kidsmart).(2 crianças)





Também foi pensada uma organização para os trabalhos individuais das crianças que facilitasse o trabalho do professor e ao mesmo tempo propiciasse a autonomia e a individualidade de cada um: construímos um escaninho com caixas de arquivo, identificadas com nome e foto do rosto de cada criança, onde dispusemos as pastas de trabalhos, para que após avaliação dos mesmos as crianças pudessem guardá-los corretamente.
 O trabalho com cantinhos deve ser significativo, propício ao desenvolvimento de habilidades e ser a ferramenta da execução do(s) Projeto(s) de sala, de fase, da escola ou da Secretaria da Educação.
Após a organização do espaço, planejou-se a organização do tempo, de acordo com a rotina pré-estabelecida pela realidade da U.E., distribuindo durante a semana e nos diversos momentos do dia, as atividades coletivas, as atividades de cantinhos, as atividades extra-classe e as atividades de rotina (higiene e alimentação).
Para o trabalho no início da Educação Infantil é interessante utilizar um quadro ou varal com fotografias das próprias crianças durante a rotina, para que elas visualizem, compreendam e sintam-se seguras de que existe um início, um desenrolar e um final do dia, que a família trás, mas retorna para buscá-lo e mais adiante, começam a relacionar o dia da semana às atividades que serão desenvolvidas.
É importante lembrar que a expressão livre das crianças é um momento coletivo de conversa, para que elas possam exprimir o que lhes interessam, o que as preocupam, suas alegrias, tristezas, medos, realidades e fantasias. Esses temas de vida,  podem ser escritos no Livro da Vida, para construirmos e registrarmos nossa história, percebendo uma das funções da escrita. Também registramos canções, poesias prediletas, passeios e eventos realizados na escola. Até nossas novas descobertas são merecedoras de ficarem registradas e é claro, com a ilustração das crianças.
São nesses momentos de Roda da Conversa, que o grupo se reconhece e observa a quantidade de meninos e meninas  que estão presentes e ausentes, os ajudantes do dia se identificam, observando a ordem alfabética dos nomes, identificam as iniciais e os nomes dos colegas, localizam-se no calendário, dias de aniversário, passeio, exposições de trabalhos... Também podem surgir reclamações e críticas, abrindo a discussão para as regras de vida, delimitando o que pode e o que não pode, garantindo o respeito ao outro e uma convivência em grupo harmoniosa.
É na roda que são combinados o planejamento do dia, o início ou a avaliação de algum projeto finalizado, que apresentamos as novidades, jogos diferentes e regrinhas de uso, aprendemos uma nova canção ou ouvimos uma arrepiante história de fantasma contada pela professora.
Outros momentos do dia, são dedicados às atividades extra-classe, como parque, casinha da boneca, pátio, estacionamento, tanque de areia, sala de leitura, que fazem parte da rotina e do planejamento.

RESULTADOS E AVALIAÇÃO
Através dessa filosofia e organização de trabalho pedagógico, verificamos que muito colaboramos para a aprendizagem e desenvolvimento de nossas crianças, principalmente as crianças com necessidades especiais, que realmente estão incluídas e fazem parte do grupo.
Também foram observadas mudanças positivas nas ações e posturas de colegas de trabalho ao compartilharem seus medos, dúvidas e ás vezes a incerteza de um “achismo” que nunca obteve resultado positivo.
O resultado do  trabalho, foi a formação de um grupo de crianças críticas, cooperativas, responsáveis, questionadoras, autônomas, disciplinadas, cuidadosas, afetuosas...
 As famílias e comunidade escolar foram envolvidas em nossos grandes projetos, participando e prestigiando os eventos.
 Nós, educadoras, crescemos individual, intelecto e emocionalmente, pois aprendemos a buscar, a ouvir, a dialogar, a compartilhar, a dividir, a experimentar, a refletir e recriar. Esse é o verdadeiro sentido da Educação.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cabe à escola e ao professor, preparar o aluno para o contato com a sociedade, proporcionando-lhe estímulos, referências e possibilidades para a compreensão do mundo que o rodeia, para que tenham atitudes responsáveis e conscientes para a transformação da realidade. Assim o trabalho com projetos em cantinhos fixos, possibilita a diversificação de ações e vivências, explorando atitudes e desenvolvendo competências. Proporciona elaborações de pesquisas, comprovação de hipóteses, resolução de problemas, cooperatividade, o tateio experimental, enfim a aprendizagem significativa. Para a realização do trabalho cooperativo e autônomo das crianças, foi necessário um planejamento prévio que definisse a organização do espaço, do tempo, dos materiais, do tema a ser desenvolvido, o levantamento de problematização, estabelecimento de objetivos a serem alcançados, conteúdos necessários para o tratamento do problema, estratégias desenvolvidas, finalização. Porém, todo o trabalho pedagógico presume a reflexão e para esta, um registro. É necessário a criação de hábitos de escrita, pois escrever proporciona autoconhecimento e gera conhecimento. Para isto, utilizamos nosso diário. Para um efetivo trabalho colaborativo com projetos é importante deixarmos nossa marca.

ANETE TATIANA DE SOUZA MAION

RELATO DE ATIVIDADE 2ª FORMAÇÃO DO PROGRAMA DE ENSINO SISTEMATIZADO DE CIÊNCIAS (PESC)

 



ATIVIDADES  DESENVOLVIDAS
 
Jogo de tabuleiro (PESC) coletivo “Trilha ecológica”, reprodução do jogo em tamanho gigante para melhor aproveitamento do conteúdo, coleta seletiva de materiais recicláveis, reaproveitamento dos materiais recicláveis confeccionando brinquedos, produção de informativo para conscientização da comunidade, pesquisas, leituras de histórias e poesias, vídeos, músicas sobre o tema, atividades de recorte, colagem desenho, pintura e modelagem e experiências práticas com a água

OBJETIVOS
Desenvolver a consciência crítica em relação à natureza, aguçar a questão da preservação, intimamente ligada à continuação da vida, bem como desenvolver atitudes que promovam o respeito, o cuidado e a preservação do meio ambiente.



- Estimular o cuidado com a natureza;
- Conscientizar-se quanto a importância de se preservar o meio ambiente em que se vive e os recursos da natureza, viabilizando uma prática de vida cotidiana mais saudável;
- Valorização de atitudes de manifestação e preservação dos espaços coletivos e do meio ambiente;





  

- Ter contato com materiais de origem reciclável despertando a criatividade e o reaproveitamento do mesmo;





-Identificar a importância da água para os seres vivos e adquirir atitudes de economia dos recursos naturais;
- Preocupar-se com o lixo e com o esgoto, evitando poluir, degradar, desmatar e agredir.

PÚBLICO-ALVO
Crianças da Educação infantil de 4 a 5 anos.

CONTEÚDOS
- Valorização de atitudes de manutenção e preservação dos espaços coletivos e do meio ambiente;
- Lixo orgânico, materiais recicláveis, reutilização, reciclagem, redução, não desperdício de materiais e de alimentos;
- Água: ciclo na natureza, sua importância para os seres vivos, poluição, não desperdício.
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METODOLOGIA
O projeto será iniciado a partir de perguntas instigantes a respeito do tema na roda da conversa, fazendo com que as crianças pensem e reflitam sobre o assunto, valorizando e aproveitando os conhecimentos prévios de cada um.
Em seguida serão utilizadas diferentes estratégias de busca de informações, como o acesso a livros, revistas, jornais, informativos, vídeos e experiências diretas sobre o assunto.
Todo o processo será registrado no Livro da Vida pela professora, onde as crianças poderão colocar suas hipóteses e conhecimentos em construção sobre o projeto.
Será desenvolvido oficina de construção de objetos e brinquedos com materiais recicláveis, a construção de um terrário, registro de todo o conhecimento adquirido através de desenhos e pinturas e para a finalização do projeto, construção de um informativo sobre a preservação do 
meio ambiente e exposição de trabalhos sobre o projeto.  


AVALIAÇÃO
O projeto será avaliado através do envolvimento e participação das crianças, bem como através das atitudes e falas que demonstrem os conhecimentos trabalhados, havendo a possibilidade de reflexão sobre a ação pedagógica e reorganização do processo.
Ao final, a expectativa é a de que o projeto tenha contribuído para a promoção de atitudes para a melhoria das relações com a natureza e para a formação individual e  integral de cada criança como ser que faz parte da natureza  e que também é responsável por sua preservação.
O resultado será divulgado na Exposição da água e no blog: prof-tati2009.blogspot.com





REFERÊNCIAS
ü  Fundamentos teóricos, Ciências Naturais e Sociais. – 1.ed.São Paulo. DCL, 2006 (Coleção Novos caminhos. Aline Correa de Souza).
ü  A gotinha Plim Plim.
ü  Ética ambiental e cidadania. coleção Meio Ambiente. Belli, Roberto. Ed. Brasileitura
ü  Caderno do professor: Cadê o lixo que estava aqui?.Instituto Estre de responsabilidade socioambiental.
ü  Entre no clima! Uma reflexão sobre o aquecimento da Terra – Material do educador/2008.Fundação ArcelorMittal Brasil.
ü  Filme: Por água abaixo.



domingo, 11 de julho de 2010

Direito fundamental a proteção e a integração social da pessoa com deficiência: a luz do texto constitucional

Numa análise das prescrições normativas apontadas no Direito fundamental a proteção e a integração social da pessoa com deficiência, descrevo como o meu papel de educadora pode facilitar o cumprimento dos dispositivos legais apresentados.

É envolvendo a escola , como um todo, através de discussões, levando o conhecimento da legislação que trata da inclusão, levantando interpretações, pontos de vista, reflexões.
Buscando transformar a escola, no que diz respeito ao currículo, à avaliação, às atitudes, estimulando o interesse dos professores em querer desenvolver estudos relacionados ao atendimento ao aluno com deficiência, socializando experiências pedagógicas.
Pois, a partir do momento em que todos os professores, ou sua maioria, se permitirem a rever suas concepções e refletir sobre sua prática diante do aluno com deficiência, com base em conhecimentos científicos e no entendimento contextualizado, haverá condições para exigências do que se está garantido em papel, se concretizar e garantir aos nossos alunos, independente de suas características, uma escola de qualidade para todos.

terça-feira, 2 de março de 2010

PEDAGOGIA FREINET: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO VOLTADA PARA A VIDA.




Anete Tatiana de Souza Maion



RESUMO

Este artigo tem por objetivo refletir sobre a Pedagogia Freinet, uma proposta de educação voltada para o trabalho  como a arte de transformação da natureza, ou seja, do trabalho que dignifica o homem. Auto-didata de sua própria experiência, Celestin Freinet partiu de uma educação que tivesse o interesse das crianças como o referencial para a realização das atividades, fazendo assim, com que a aprendizagem se tornasse significativa. Também discutiremos  o que essa proposta apresenta de forma a contrapor à pedagogia tradicional e como apresenta  os elementos da organização do trabalho pedagógico, como: currículo, avaliação, relação professor e aluno, espaço/tempo, técnicas e metodologias de trabalho. É importante frisar que a Pedagogia Freinet tem como objetivo principal preparar o indivíduo para atuar na vida em sociedade, visando o cooperativismo e respeitando a individualidade de cada um.

Palavras-chave: Freinet; educação; trabalho; cooperação; vida autônoma.



1 INTRODUÇÃO

Neste artigo abordaremos a organização do trabalho escolar na educação a partir da Pedagogia Freinet. Essa teoria tem como proposta de trabalho uma pedagogia da ação, para que o aluno possa ter uma participação ativa e criativa durante sua formação, ampliando seu conhecimento  a partir do que vivencia no seu dia-a-dia.
            Célestin Freinet nasceu na aldeia francesa de Gars, nos Alpes Marítimos, em 15 de outubro de 1896. Sua primeira atividade, ainda na sua infância, foi pastorear ovelhas, mas sua primeira opção profissional, na juventude, foi pelo magistério. Autodidata, era um humanista por formação e um militante do cooperativismo. Embora pacifista, envolveu-se diretamente nas duas Grandes Guerras Mundiais, em que teve seus pulmões prejudicados pelo efeito de gases tóxicos, que acabou  por impedí-lo de concluir o Curso Normal.
            Pedagogo de sua própria prática, viajou muito para conhecer outras experiências pedagógicas, criticando-as e absorvendo delas o que achava positivo.
Crítico do ensino tradicional, Celestin Freinet organizou sua pedagogia em torno do trabalho, fundamentada em uma perspectiva que valoriza a relação entre a escola e a vida. Freinet teve uma forte influência das idéias de Marx e Engels, que o levou à construção de uma pedagogia socialista, que articulava as relações entre escola-trabalho-sociedade. O objetivo desta escola era  formar cidadãos autônomos e críticos capazes de transformar a sociedade em que vivem.

[...] devemos definir nós, o verdadeiro objetivo educacional: a criança desenvolverá ao máximo sua personalidade no seio de uma comunidade racional a que ela serve e que lhe serve. A criança cumprirá seu destino, elevando-se à dignidade e ao potencial do homem, que se prepara, assim, para trabalhar de maneira eficaz, quando se tornar adulto, longe das mentiras interessadas, pela realização de uma sociedade harmoniosa e equilibrada. ( FREINET, 1996, p.09).

                                      Sendo assim, Freinet idealizou uma escola que fosse centrada na criança, onde o papel do professor seria o de apenas orientar, mediar e ajudar a construção de sua personalidade. Contrapôs-se às disciplinas trabalhadas individualmente em compartimentos, a memorização, propondo um trabalho que partisse da vontade própria de cada aluno articulado a um ambiente educacional rico de materiais, de técnicas de trabalho e de vivências concretas para uma educação significativa e real.
                                      Como diz Freinet (1996, p.10):

[...] não podemos, atualmente, pretender conduzir metódica e cientificamente as crianças; ministrando a cada uma delas a educação que lhe convém, iremos nos contentar com preparar e oferecer-lhes ambiente, material e técnica capazes de contribuir para sua formação, de preparar os caminhos que trilharão segundo suas aptidões, seus gostos e suas necessidades.


           Celestin Freinet, falece no dia 8 de outubro de 1966, na escola de Vence.
A partir dessas considerações, serão abordadas as seguintes questões ao longo desse trabalho:
- O que esta proposta apresenta de forma a se contrapor à pedagogia tradicional?
- Como a Pedagogia Freinet discute os elementos da organização do trabalho pedagógico?
                                      Para realizar esta análise, destacamos os seguintes elementos da organização escolar: currículo, metodologias/técnicas, relação professor e aluno, espaço/tempo, avaliação. Estas questões foram analisadas a partir de pesquisa bibliográfica, tendo como referência as obras originais do autor para a construção  deste artigo.

                          2 TRABALHO: DE MARX À PEDAGOGIA FREINET

                                      O trabalho, conceito fundamental do Marxismo, está no centro do pensamento pedagógico de Freinet. Entendemos o conceito “trabalho”, como o processo de transformação da natureza em função da ação do homem sobre ela. Segundo Marx, o conceito “trabalho” pode ser explicitado em dois aspectos: o primeiro como a ação pura e simplesmente do homem sobre a natureza, a qual busca apreender o modo como os homens obtêm os bens de que necessitam, fazendo uma divisão desse trabalho, de maneira cooperativa,  apenas levando-se em consideração a faixa etária, a saúde e o gênero de cada indivíduo; o segundo aspecto, sendo o trabalho como objeto de compra  numa sociedade em que a proporção maior da produção fica para a minoria e a maioria, ou seja, os trabalhadores, ficam cada vez mais distantes do que se poderia dizer da justa distribuição da renda total que lhe caberia.

[...] É por meio da ação produtiva que o homem humaniza a natureza e também a si mesmo. O processo de produção e reprodução da vida através do trabalho é, para Marx, a atividade humana básica, a partir da qual se constitui a “ história dos homens”, é para ele que se volta o materialismo histórico, método de análise da vida econômica, social, política, intelectual. (Quintaneiro, 2002, p. 33).
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            Este ponto de vista marxista leva à construção de uma pedagogia socialista baseada nas  relações escola-trabalho-sociedade, assim, essas relações são invocadas a partir de diferentes formas; quer como união da escola com o trabalho produtivo, ou como simples justaposição dos dois. Dessa maneira um trabalho escolar que  promove a produção e a criação dá às crianças  a possibilidade de ultrapassar a prática, o aspecto técnico do trabalho, além de favorecer o crescimento intelectual, econômico e social.
            A escola deve viver no seio da atualidade e isso impõe uma revisão completa dos objetos de ensino. Esse contato com a atualidade permite à criança adquirir a ciência e combinar a teoria com a prática, além disso, promove a auto-organização das crianças, permitindo a construção de hábitos de cooperação e senso de responsabilidade diante da coletividade.
            A organização cooperativa assegura as condições de trabalho para que a criança não seja afastada do produto do seu trabalho, para que o trabalho escolar não constitua um trabalho alienado, levando-a tanto à auto-alienação, quanto à alienação em relação às outras crianças, membros da comunidade escolar. Estes conceitos: trabalho alienado, auto-alienação e alienação do homem em relação a outros homens, são dominantes no pensamento de Marx. Sabe-se que o “trabalho” é um conceito historicamente determinado em Marx, que mostra as condições da atividade humana nos quadros da economia política. Nas sociedades de classes, o homem é separado do produto de seu trabalho e do trabalho enquanto tal. Este trabalho alienado é um resultado histórico devido à divisão primária do trabalho.
  Assim, esta cooperatividade  da vida escolar visa não apenas colocar em evidência indivíduos com capacidade organizacional e com espírito de responsabilidade, mas também indivíduos que não sentem aversão pelo trabalho.

[...] É necessário também um perigoso acúmulo de erros, para suscitar na criança o receio e depois a aversão por uma função tão natural e nobre como trabalho.
Reponha esse trabalho no circuito da vida. Dê-lhe uma finalidade e um sentido. Que ele alimente e impulsione o comportamento natural, que se situe no núcleo do seu destino individual e social.Será preciso, talvez, ordenar os programas na nova empresa, equipada de espaço, de instrumentos, de arte e de luz, sem contar a alma e o ideal que são o sol de tudo isso.
Mas precisamos mais do que discursos para devolver ao trabalho a sua permanência e a sua dignidade. ( FREINET, 1996, p.35).

            As técnicas de trabalho, assim como a vida cooperativa, realiza-se com um objetivo concreto. Freinet define suas práticas pedagógicas como uma ruptura com a sociedade burguesa. Ele se diz educador proletário, comprometido com uma escola popular destinada a formar homens conscientes e responsáveis, aptos a assumirem as funções políticas sindicais ou cooperativas a serviço do povo.

[...] uma educação que corresponda às necessidades individuais, sociais, intelectuais, técnicas e morais da vida do povo na era da eletricidade, da aviação, do cinema, do rádio, do jornal, da imprensa, do telefone, no mundo que esperamos não tardará a ser o do socialismo triunfante. ( FREINET, 1996, p.07).

3 DA ESCOLA TRADiCIONAL AO CAMINHO DA ESCOLA DOS SONHOS: UMA DISCUSSÃO SOBRE OS ELEMENTOS DO TRABALHO PEDAGÓGICO


            Em suas obras, Freinet nos mostra sua insatisfação e preocupação com a fácil possibilidade dos educadores não resistirem ao ensino tradicional.

Nada é mais tentador para os educadores do que a escola tradicional; nada é tão perigoso. Ela separa a árvore de suas raízes, isola-a do solo que a nutri.
Cabe-nos reencontrar a seiva. ( FREINET, 1998, p. 83).
           
Freinet consegue ter uma visão que iguala a natureza do homem à natureza da criança rompendo com o pensamento tradicional, que coloca o professor como portador do saber e a criança como um adulto em potencial. Romper com a escolástica para Freinet é, principalmente,  propor uma outra concepção de trabalho: a do trabalho real “vivo”.
            Freinet nos faz parar para refletir sobre o real significado de uma pedagogia tradicional, autoritária, longe da vida e fora do contexto de vivência das crianças. O autor critica a postura do docente que, sem se preocupar com as “entrelinhas” de uma educação imposta, trabalha com conteúdos compartimentados, em que o mestre manda e os alunos simplesmente obedecem.
           Ele concorda com os conceitos de ordem, disciplina, autoridade e dignidade dentro do ambiente escolar, desde que resultem de uma organização do trabalho, em que o respeito seja fruto do cooperativismo, e que o professor seja capaz de partir do mesmo patamar de seus alunos, construindo juntos descobertas, conhecimentos e dignidade.

Arregace as mangas para trabalhar com as crianças. Deixe de dar ordens e castigar, atire-se ao trabalho com os alunos. Não tenha medo de sujar as mãos, de se machucar com uma martelada, de hesitar nos casos em que a criança mais viva domina a situação, de tatear, de se enganar, de recomeçar. Assim é a vida, e é o esforço que fazemos lealmente, para dominar seus incidentes, que constitui o principal elemento da nossa educação. (FREINET, 1996, p. 92). 

Em suas obras, o autor faz uma comparação da escola tradicional com a ciência médica, em que sempre procurou atingir a perfeição máxima, com horários rigorosos, sem se preocupar com os “pormenores”, em que se regula o alimento intelectual das crianças (disciplinas compartimentadas), isolada na escola: silêncio, frieza em relação às lições e deveres, sem nenhum tipo de relação ou contato com o meio de vida natural, ou familiar, asseio, ordem e tecnicismo.
Freinet denomina esta carência como escolastismo.

O hospitalismo foi uma blasfêmia científica antes de ser uma realidade para a qual se procuram, cuidadosamente, remédios eficazes.
O “escolastismo” será a blasfêmia pedagógica que aclimataremos nos meios educacionais, onde já introduzimos tanto outros neologismos. (FREINET, 1996, p. 93).

            Sendo assim, é imprescindível que o docente e seus alunos, juntos, busquem e relacionem suas vivências ao conhecimento, para que haja uma aprendizagem significativa
            Embora defendesse a educação ativa e prazerosa, Freinet apontava a importância de um planejamento que, apesar de flexível, possuísse objetivos claros e definidos. A Escola Nova, concepção de educação que vinha dos interesses da burguesia entre os séculos XVIII e XIX, rejeitava a escola tradicional, centralizando seus princípios nos meios (metodologia), em detrimento do conteúdo, não ia ao encontro dos interesses das classes dominadas.
            Para Freinet, a realidade educacional não pode ser dissociada da sociedade em que esta está inserida. A consciência deste vínculo entre escola e meio, além de possibilitar o êxito da educação, favorece o surgimento de algumas das condições necessárias à transformação da sociedade como, por exemplo, a compreensão da realidade e a prática cooperativa e democrática.
            Coerente com a afirmação acima, Freinet buscou uma pedagogia que pudesse atender a todos os indivíduos, independente de sua classe social, procurando, assim, envolver todas as crianças no processo de aprendizagem.

4 OS ELEMENTOS DO TRABALHO PEDAGÓGICO

·         Currículo  ( FREINET, 1996b)
           
            Freinet, antes de tudo, defendia uma educação que tivesse sentido para a criança, e cujas atividades e objetivos fossem coerentes com aquilo que esta necessitasse. A escola, portanto, deve preparar a criança pela vida e para a vida, dentro de uma participação ativa e dinâmica.
            Inspirado nas idéias de Marx a respeito do trabalho, que o considera como a  ação maior do homem, no qual este se identifica e realiza, Freinet defende que o trabalho deve ser o centro de toda a atividade escolar.
            O trabalho é a força que move o ser humano, que dá sentido e finalidade à sua vida e  que através dele desenvolve todas as suas potencialidades, pessoais e sociais. Desta forma, a atividade pedagógica só será eficaz e gratificante se estiver baseada neste princípio básico da natureza humana.
            É através do trabalho que o homem se constrói, compreende a realidade e cria relações com os outros indivíduos. Quando este está estruturado de uma forma democrática e comunitária, determina o envolvimento de todos os membros da comunidade em objetivos comuns, favorecendo o surgimento do sentimento de coletividade.
            É importante frisar que este trabalho não é considerado uma atividade que só possui sentido para a criança, dissociado das necessidades concretas da comunidade escolar (e também do mundo). Ele está inserido dentro da realidade social e comunitária da escola, possuindo, assim, sentido para o educando e para a própria vida.
            A maioria das atividades respeita o conteúdo programático do professor, que possui objetivos bem claros. O planejamento, no entanto, é flexível, se moldando de acordo com a motivação da turma. A maneira e a época em que os conteúdos serão introduzidos são estipulados de acordo com os interesses do grupo, mas os objetivos do professor são rigorosos.
            Ao reconhecer a importância dos conteúdos no processo de desenvolvimento do ser humano, (principalmente para as classes populares), a escola Freinet não despreza os objetivos que cada ano letivo possui, somente é flexível quanto à forma como estes serão introduzidos e desenvolvidos.

·         Metodologias/Técnicas ( FREINET, 1996b)

            Assim, motivados por atividades que possuem sentido e finalidade (porque inseridas num contexto mais amplo de construção da própria vida), os educandos aprendem através de suas experiências, como também através de aulas sistematizadas, nas quais contribuem para a solução de problemas baseados na realidade social. Aprendem a partir de suas reais necessidades como alunos concretos, inseridos numa comunidade concreta, com objetivos concretos (sempre com orientação e participação ativa do professor).
             A aprendizagem é entendida, neste contexto, como um “tateamento experimental”, onde os alunos, através do trabalho, partem para a procura de referenciais teóricos e práticos capazes de auxiliá-los na solução dos problemas existentes em seus projetos (que têm como base o conteúdo programático). A aprendizagem através do tateio se caracteriza pela repetição das experiências bem sucedidas e o abandono das que não trouxeram bons resultados. A partir disso, Freinet destaca a importância da assimilação dos reflexos mecanizados, considerados de grande importância para a realização de um trabalho eficiente.
            A memorização e a concentração, então, não são vistas como atividades penosas, pois fazem parte do próprio processo de trabalho. Apesar de exigirem determinados sacrifícios, não estão dissociadas da própria vida e por isso, devem ser encaradas como um dos passos necessários para a elaboração de um projeto. Desta forma, os fins motivam o educando em seu processo de aprendizagem.
            A prática da Pedagogia Freinet nos mostra inúmeros exemplos que endossam a concepção acima. Entre elas, a “imprensa” possui um papel de destaque, porque tem a função de dar sentido às produções das crianças, possibilitando a sua sistematização e a distribuição em maiores quantidades. Baseado na premissa fundamental da necessidade de comunicação e expressão do homem, o texto livre, o jornal mural, a correspondência inter-escolar e o livro da vida, ganham o objetivo maior de divulgação dos trabalhos dos alunos. Assim as atividades das crianças não possuem um significado somente “em si” (o trabalho pelo trabalho somente), mas visam à informação  (pesquisas), à comunicação (correspondências) e à divulgação ( obras). O desenho livre, apesar de não utilizar a imprensa, também se enquadra nos objetivos acima. Vale destacar que a alfabetização nas escolas Freinet baseia-se nesta concepção de dar um sentido real às produções das crianças, motivando-as.
            Apesar de estimular o tateamento experimental, o professor não possui uma postura de mero espectador das atividades dos alunos. Seu papel é ativo e proporcional às necessidades do grupo. Além disso, as tradicionais aulas expositoras são utilizadas, tanto quanto professor e a turma acharem que é preciso.
            As atividades pedagógicas são enriquecidas com todas as formas de expressão (sem ou com a imprensa), pesquisa, aulas expositoras e aulas-passeio, já citadas anteriormente. Além destas, vale destacar o papel dos projetos, dos cantos de atividades, do fichário escolar e das bibliotecas de trabalho, com grandes motivadores da aprendizagem.

·         Relação professor e aluno (FREINET, 1996b)

            As escolas Freinet são estruturadas comunitariamente. A prática democrática e cooperativa e o respeito ao ser humano são a base de toda e qualquer atividade.
            As atividades pedagógicas ocorrem a partir dos trabalhos escolhidos coletivamente. É importante destacar agora o papel que o professor e os conteúdos programáticos exercem dentro deste processo.
            O professor possui uma postura ativa, sendo considerado parte integrante do grupo. Apesar de suas opiniões e voto possuírem o mesmo peso que o de cada componente da turma, é respeitado como aquele que tem mais experiência e cuja função é justamente transmiti-la aos alunos.
            Desta forma, cabe ao professor explicitar seus objetivos e planejamentos, além de coordenar democraticamente as atividades e orientar a turma a respeito de atitudes e posturas. Suas opiniões, no entanto, não são impostas e, na maioria das vezes, o próprio movimento do grupo corrige e ajusta as dificuldades. Cabe ao professor, então, saber como e quando intervir. Podemos dizer, portanto, que este realmente exerce um papel de autoridade, mas não é autoritário.

·         Espaço/Tempo ( FREINET, 1996b)

Freinet se volta para a sala de aula, para a criação de oficinas (ateliês) que comporta um rico material em instrumentos, mas também, para as técnicas de trabalho que asseguram a relação entre teoria e prática.
            Nos ateliês, as atividades são divididas por tipos de trabalhos manuais e/ou intelectuais, que são organizados de uma maneira que os materiais necessários para o trabalho, fiquem à disposição das crianças, em prateleiras baixas, que também servem como divisórias entre os outros ateliês. Estas atividades são oferecidas a partir de um plano de trabalho feito pelo professor junto com os alunos, em que estes podem escolher autonomamente em que ateliê trabalhar naquele momento.
            Cada ateliê deve comportar um determinado número de crianças, onde todos possam trabalhar tranqüilamente.
            Na “escola freinetiana”, também deve haver um espaço fora da sala de aula, onde se possa cultivar flores, hortaliças, para criação de pequenos animais e que as crianças possam ter um contato direto com a vida.
            A aula-passeio também é um meio muito utilizado na Pedagogia Freinet, pois além de viabilizar o contato direto com a vida, com a natureza, com outras pessoas, outros tipos de estabelecimentos, é um momento rico de conhecimentos, pois pode ser utilizada tanto para pesquisas, como para que o professor possa iniciar um novo projeto de acordo com os interesses das crianças em determinado assunto que foi visto e experimentado por elas.

·         Avaliação ( FREINET, 1996b)

            O professor deve exercer uma posição ativa, orientando, ensinando, sistematizando conteúdos, sugerindo, canalizando as atividades para o seu planejamento e exigindo de seus alunos coerência, responsabilidade e comprometimento.
            As normas de avaliação da escola tradicional já não são válidas para a escola do trabalho. O sistema de notas baseado em lições memorizadas, provas com notas e médias reduz à função intelectualizada de todo o processo escolar.
            Na “escola freinetiana”, a avaliação é feita como um processo, em que a criança procura a medida e a avaliação de seu esforço. Aqui se encontra a importância dos planos de trabalho, pois quanto mais importante, complexa e demorada é a tarefa,  mais a criança sente a necessidade de se socorrer em alguns degraus dentre as etapas.
            Esta avaliação não deve ser feita apenas pelo professor, para que não haja parcialidade, arbitrariedade e enganos. Os próprios alunos devem participar da avaliação e de sua auto-avaliação dentro da comunidade escolar.
            Finalmente, esta avaliação não deverá ser feita sobre o resultado obtido, mas sim sobre o processo percorrido pela criança.          

CONCLUSÃO

            Este artigo perderá muito de seu valor se não for remetido à realidade concreta em que vivemos.Assim, é necessário perceber que a escola Freinet não tem a pretensão de ser a redentora da sociedade, como também não pretende solucionar todas as dificuldades apresentadas pelo sistema de educação pública brasileiro, visto que estas questões se situam num contexto mais amplo de realidade social.
            A Pedagogia Freinet somente se apresenta como um modelo de educação voltado ao trabalho, como um meio de preparação do indivíduo para a sua atuação na vida em sociedade, visando o cooperativismo, respeitando a individualidade de cada um e não o individualismo, que a escola tradicional acaba produzindo.
            Essa Pedagogia assume para fins educativos as necessidades de cada criança, para motivar, organizar o trabalho, realizar e para desenvolver sua personalidade  em relação com o seu meio. Essas necessidades não deixam de ser a expressão dos sentimentos e idéias, comunicação com os outros, criação, ação conhecimento, organização e avaliação.
            Mas é preciso que haja uma transformação das relações professor-aluno, pois a Pedagogia Freinet é uma educação baseada na confiança,  acompanhada por uma real atitude das crianças de se encarregarem de seu modo de vida e trabalho.
            Assim, o papel do professor e a responsabilidade da escola são de criar um meio educativo em que tais necessidades sejam sentidas e possam ser assumidas e então, satisfeitas pelo grupo.
            Percebemos, ao pesquisarmos a Pedagogia Freinet, que  vem ao encontro a estes objetivos e necessidades que precisam ser alcançados, que é possível preparar um futuro mais humanizado, que é possível construir uma sociedade em que os homens saibam cooperar e coordenar seus conhecimentos para o atendimento das necessidades de todos.
            É importante ressaltar que nesses estudos relacionados à Pedagogia Freinet, percebemos um encontro intuitivo com uma autêntica práxis pedagógica, uma práxis na qual a ação gera conhecimento e o conhecimento, por um movimento dialético, vem realimentar essa mesma ação.
            Por último, e talvez mais importante do que tudo o que foi dito até aqui, está o fato de que nós, professores e professoras, temos uma tarefa essencial: resgatar o valor da nossa profissão diante da sociedade.  É preciso que rejeitemos o sentimento de culpa e assumamos a responsabilidade pelo ato de educar. É preciso que exijamos o respeito a que temos direito, fazendo-nos ouvir nas respostas que damos ao problema da educação, sem ficarmos esperando de outros especialistas essas respostas. Não é mais possível que nós, educadores, fiquemos ouvindo o monólogo de outros, que se faz sobre nós. Também não queremos ficar sós com o nosso monólogo.
            Queremos o diálogo, e por isso apresentamos nossa palavra.
           


















Referências Bibliográficas:


FREINET, Celestin. A Educação do Trabalho. Tradução: Maria Ermantina Galvão G. Pereira.-São Paulo: Martins Fontes,1998, p. 9 – 339.


FREINET, Celestin. Para uma Escola do Povo. Tradução: Eduardo Brandão.- São Paulo: Martins Fontes, 1996b, p.1 – 127.


FREINET, Celestin. Pedagogia do Bom Senso. Tradução: J. Baptista.- São Paulo: Martins Fontes, 1996a, p.3 – 125.


QUINTANEIRO,Tânia & BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira. Karl Marx. In QUINTANEIRO, Tânia et al. (org.). Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2º ed., Belo Horizonte, Editora UFMG, 2002, p. 27 – 66.